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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Retornando à Essência: Um Bobo da Corte no Deserto

Mas como caminhou. Auê!
     Mas como caminhou. Auá!
     Mas como caminhou. Santo Antônio de Pemba. Como caminhou!

  É com esse ponto cantado de Preto Velho que eu começo esse texto. Acho que essa música é a melhor forma de ilustrar esse momento. Momento muito comum na vida de muitos adeptos da espiritualidade e da busca por algo além do que o mundo profano apresenta para se seguir. Eu havia acabado de sair de uma profunda caverna, meus olhos estavam machucados com a luz, mas encantados com seu brilho. E eu queria ver tudo com os novos olhos que acabara de receber. E assim nasceu minha sede insaciável por conhecimento. Ela foi minha grande bênção, mas também minha maior maldição. Eu não possuía mentor, professor ou qualquer noção de por onde começar. Consequência: Internet
  Eu comecei a pesquisar sobre ocultismo igual a um louco. E como todo ser sedento por poder, o que eu mais busquei foram técnicas para desenvolver clarividência. Acho que todos fazem isso no início. Todo mundo quer ver espíritos, mas a verdade é que quase ninguém está pronto para essa responsabilidade. Talvez pensam que é como um filme do Chico Xavier, mas mesmo  ele, não sabia mais quem estava morto e quem estava vivo, devido a intensidade do seu dom. Ele era alguém no meio de dois mundos. Assim como temos os piores lugares no nosso mundo, como favelas, pontos de drogas, etc. Lá também há, e os habitantes desses lugares no lado de lá são bem piores que os daqui. Não são só pessoinhas de roupa branca que habitam o astral.

  Foi quando eu descobri uma determinada corrente de pensamento. Me trancava no quarto para recitar mantras e fazer rituais que eu nem sabia se funcionava. E o pior é que isso é recorrente. Ninguém quer desenvolver as capacidades necessárias para executar um ritual devidamente. E quando o ritual não funciona, acha que isso tudo é mentira. A pessoa é que é um incapaz arrogante. E eu já fui esse incapaz arrogante. Eu nada sabia na época e acreditei em tudo que lia. Ainda bem que não li tudo que havia para ler. Quem sabe não conseguisse sair devido a intensa lavagem cerebral que aquilo é capaz de fazer. Por um bom tempo eu me vi aprisionado em um “conhecimento” limitador e que, quase em sua totalidade, se dedicava a dizer verdades absolutas e confrontar outras fontes de conhecimento. E eu, com minha visão coberta pelos véus da ilusão, me julgava a sabedoria encarnada. Como se não houvesse ninguém maior que eu. E essa é a maior artimanha do Ego para atrapalhar sua jornada. Te fazer acreditar que é maior do que realmente é, e maior que os outros. Eu havia me tornado um bobo da corte. Nunca acreditem em quem diz ser o único caminho, a única verdade, o original, o verdadeiro. São palavras típicas de golpistas. A internet é o melhor e o pior lugar para se aprender. Porque você precisa aprender a filtrar informação. E isso só se aprende com experiência. Mesmo quando essa fase terminou, eu ainda não decidira o que ser, o que aprender, o que seguir. E talvez, mesmo hoje, eu ainda não saiba claramente o meu caminho. Mas, com certeza, estou caminhando melhor do que antes. Eu precisava de ajuda para atravessar a porta, e não encontrava a chave no meio dessa tempestade de areia. Não via nada no meio do deserto, e para piorar, as miragens te tentam o tempo todo. Por fim, andei em círculos por um bom tempo, até começar a entender o deserto, ouvir o que ele tinha a dizer, interpretar as miragens e aprender como caminhar. Só depois disso meu camelo se apresentou à mim. E foi quando eu pude atravessar as dunas de areia. Antes disso, me perdi no meio de tantos professores, tantas teorias, nenhuma prática eficaz e um mar de dúvidas. E a principal era: “O que é verdade nisso tudo?”


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