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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Dúvida



  Ela existe a todo momento, em todo lugar, haja espiritualidade ou não. Deriva da incerteza das nossas ações ou vontades em estar no caminho que leva ao objetivo que escolhemos. Isso porque sabemos o objetivo que desejamos, mas muitas vezes não sabemos onde ele está realmente. Apenas esperamos que ele esteja lá, no fim do caminho que estamos trilhando. Ela facilmente se sacia com resultados a curto prazo, mas nos agoniza com trabalhos de resultados a longo prazo.

  Nosso coração é muito sincero, não sabe o que é a dúvida, apenas o que é o sentimento. Se amamos, ele sente; se desejamos, ele sente. A dúvida não nasce no coração. Ela é fruto da mente que se espalha e corrói o coração. Lembrem-se da infância, quando fazíamos amizades com pessoas que estavam no mesmo lugar que nós só por estarem ali, compartilhando espaço conosco. Bastava um balde de areia no parquinho e uma pá para que dois seres dotados de inocência trabalhassem juntos para erguer um castelo. É claro que é impossível manter esse nível de inocência, sentimento e confiança enquanto crescemos, mas se pensarmos bem, é perturbador os extremos de confiança e dúvida em que vivemos. Enquanto somos crianças, acreditamos e confiamos em todos,

então nos ensinam a duvidar, pois não sabemos de tudo. Isso é compreensível. Erickson diz que a resolução do conflito Confiança x Dúvida, se equilibra pela nossa compreensão de que nossos pais nos protegem e podemos confiar neles e nas pessoas mais próximas, que nos amam, mas precisamos nos machucar e nos levantar sozinhos para aprender a duvidar da eterna assistência dos outros e sermos cautelosos com nossas ações. Até aqui as coisas continuam compreensíveis. Mas em que ponto, nos tornamos alimento de um medo feroz e incessante que nos diz para desconfiarmos de tudo? Em que momento todas as pessoas do planeta se tornaram demônios prontos a nos ferir enquanto nos julgamos os únicos anjos de coração puro sobre a terra? Quando o equilíbrio foi abalado e nos tornamos seres de maior dúvida e menor confiança?

  Fica evidente a conduta antissocial e reguladora de espaço que as pessoas adotaram para evitar contatos “inúteis” ou talvez “ameaçadores”. Vejo, na minha sala da faculdade, uma aula com quase 50 alunos que dirigem sua voz ao professor, mas raramente conversam entre si. Esses muros só costumam ser rompidos em casos extremos, como trabalhos em grupo, onde o seu “grupinho” não está presente para lhe abraçar e esse momento de “solidão” lhe induz a adentrar em um novo grupo e passar por todo um processo desconfortável de adaptação por causa de uma nota. Uma briga de egos, onde prevalece a vontade de não depender dos outros, como se em uma sala de alunos só habitassem mestres.
  Negamos auxílio em frágeis momentos por desconfiança da lealdade alheia. Em momentos de protesto e reforma política, vemos greves solitárias. Estamos em um país onde nenhum grupo luta pelo outro. O que deixa claro que não vivemos em uma nação. Vivemos em um país onde várias pessoas estranhas moram no mesmo pedaço de terra. Temos medo de tomar a frente de qualquer coisa porque duvidamos que alguém nos seguirá. Ou quem sabe, que sejamos dignos de sermos seguidos. E aqui é onde entramos na parte mais profunda do texto. A dúvida de si.

  Qualquer trabalho, espiritual, acadêmico, financeiro, filantrópico, exige coragem e confiança para sustentar-se. No meio desse caminho, lutamos e perseveramos contra os pedágios que se apresentam para cobrar e pesar nossa ida. O coração é fonte de prazer e amor que direciona o fogo da vontade em direção ao fim da jornada. A mente é ferramenta de planejamento. Mas no momento em que a mente é bombardeada com os impostos da realidade carniceira, a dúvida sopra ventos violentos contra a fogueira do coração que até há pouco nos tinha como aliado. O vendaval traz junto de si grãos de areia que nos cegam da realidade mais importante. Nós somos capazes.


  O motivo de estarmos aqui foi escolhermos estar aqui. A razão de escolhermos vir a esse mundo e comprar essa constante briga, que é a vida, é que sabemos que somos capazes de vencê-la. Mas nos esquecemos disso. Já se foi a hora de duvidarmos dos nossos talentos e da nossa capacidade e é chegado o momento de lembrarmos do fator primordial para se realizar tudo o que queremos. Essa vida é feita de tempo. E muito curto. Nós somos centelhas imortais. Não percamos tempo duvidando de nós mesmos. Não faz sentido duvidar do que é eterno.

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