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sábado, 23 de novembro de 2013

Medo da Morte

  Mesmo nos meios espiritualistas, onde se acredita na continuação da existência após o abandono do corpo físico, há o medo da morte. E não só da morte do corpo, mas de todas as mortes. A morte da infância, a morte do emprego, a morte dos relacionamentos, a morte do eu. Tudo isso é muito aterrorizador por causa das consequências da morte. Tudo o que resta após a sagrada ceifadora é o desconhecido, o novo, e a criação de algo para ocupar o lugar do morto. É muito difícil deixarmos o passado de lado, porque até agora nós vivemos as consequências dele, e a partir daqui, teremos que agir e criar o futuro que queremos. Isso inclui tentativa e erro e o medo nos assusta. Começar algo novo sem aquele passado, sem a presença dele.
  O primeiro passo é ter coragem para se enxergar como capaz. Capaz de continuar, de seguir em frente, de construir algo seu. Renascer das cinzas e se tornar algo novo. Esse é o único objetivo da morte, de toda morte. Renovar a existência de algo que já cumpriu seu papel e não tem mais utilidade. Mas dificilmente somos capazes de entender que a utilidade acabou. E aí, entramos num processo nojento de simbiose com algo morto. É uma vida deprimente e tão sem vida quanto o passado morto de que o outro se alimenta.
  O segundo passo é renovar e transformar todos os erros do passado em sucessos futuros. E é muito difícil levar essa atitude adiante por causa do ego. Ele acha que nada está errado, que nada precisa melhorar, e vai fazer de tudo pra te manter na zona de conforto, onde ele manda e desmanda. E é aí que a morte deixa de ser um portal transcendental que abre as possibilidades através do abandono das limitações passadas e passa a ser um fim. O fim da vontade. Quando você não é capaz de canalizar sua vontade para evoluir sua existência, você deixa de existir porque não se permitiu transcender, não se permitiu morrer.
  O Arcano XIII é sempre representado com uma foice em mãos. Sua foice é usada para a colheita. Recolhe-se os bons frutos semeados e preparando a terra para um novo plantio. Mas você não empunhará a foice enquanto não plantar, pois não há sementes no seu campo, não há o que colher. Não tenha medo da Morte, celebre a morte, viva a morte, seja a morte. Saiba morrer, transcender a si mesmo e renascer.

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