Mesmo nos meios
espiritualistas, onde se acredita na continuação da existência após o abandono
do corpo físico, há o medo da morte. E não só da morte do corpo, mas de todas
as mortes. A morte da infância, a morte do emprego, a morte dos
relacionamentos, a morte do eu. Tudo isso é muito aterrorizador por causa das
consequências da morte. Tudo o que resta após a sagrada ceifadora é o
desconhecido, o novo, e a criação de algo para ocupar o lugar do morto. É muito
difícil deixarmos o passado de lado, porque até agora nós vivemos as
consequências dele, e a partir daqui, teremos que agir e criar o futuro que
queremos. Isso inclui tentativa e erro e o medo nos assusta. Começar algo novo
sem aquele passado, sem a presença dele.
O primeiro passo é
ter coragem para se enxergar como capaz. Capaz de continuar, de seguir em
frente, de construir algo seu. Renascer das cinzas e se tornar algo novo. Esse
é o único objetivo da morte, de toda morte. Renovar a existência de algo que já
cumpriu seu papel e não tem mais utilidade. Mas dificilmente somos capazes de
entender que a utilidade acabou. E aí, entramos num processo nojento de
simbiose com algo morto. É uma vida deprimente e tão sem vida quanto o passado
morto de que o outro se alimenta.
O segundo passo é
renovar e transformar todos os erros do passado em sucessos futuros. E é muito
difícil levar essa atitude adiante por causa do ego. Ele acha que nada está
errado, que nada precisa melhorar, e vai fazer de tudo pra te manter na zona de
conforto, onde ele manda e desmanda. E é aí que a morte deixa de ser um portal
transcendental que abre as possibilidades através do abandono das limitações
passadas e passa a ser um fim. O fim da vontade. Quando você não é capaz de
canalizar sua vontade para evoluir sua existência, você deixa de existir porque
não se permitiu transcender, não se permitiu morrer.
O Arcano
XIII é sempre representado com uma foice em mãos. Sua foice é usada para a
colheita. Recolhe-se os bons frutos semeados e preparando a terra para um novo
plantio. Mas você não empunhará a foice enquanto não plantar, pois não há
sementes no seu campo, não há o que colher. Não tenha medo da Morte, celebre a
morte, viva a morte, seja a morte. Saiba morrer, transcender a si mesmo e
renascer.
Eu não tenho medo...eu MORRO de medo.
ResponderExcluirPor que?
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