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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Retornando à Essência: Sabedoria de Preto Velho

  Discorro aqui sobre minhas primeiras experiências com a Linha de Pretos Velhos. São entidades muito calmas, com um grau de conhecimento imenso e, dada a nossa limitação de consciência, extremamente pacientes conosco. Foram situações elucidativas e que comprovaram, mediante o meu ceticismo, a existência de algo mais.
  O primeiro foi um Preto Velho de Oxossi, acredito eu, pois falava muito e rapidamente. Era ligeiro na sua forma de se expressar. Seu médium era um homem alto, negro, careca e pesado. Seu semblante era agradável e alegre na forma de falar. Foi um contato agradável desde os pontos cantados até a consulta. Sentado em seu toco, com seu cachimbo, me disse coisas que hoje só pertencem ao meu inconsciente. Infelizmente, eu não tinha o hábito de anotar as conversas em um diário e essa conversa se encontra em algum lugar que a minha consciência não consegue alcançar. Gostaria de vê-lo novamente, perguntar seu nome e obter novas palavras suas.
  Nesse mesmo templo, uma Preta Velha me abriu os olhos ao dizer-me:

  — “Fio” tem que ter calma. Tá no caminho certo, mas não está hora de ganhar o que quer. Tem coisa pra fazer ainda. E tem que tomar cuidado com as pessoas que se aproximam de você. Nem todo mundo é seu amigo. Aprenda a falar menos, principalmente de você. O segredo concentra a energia. Quando você conta sobre num projeto, essa energia se dispersa e você pode até perde-la totalmente. Seja cuidadoso, meu “fio”.

  Depois dessa mensagem, mudei bastante meu modo de agir e as coisas realmente melhoraram. Eu havia aprendido uma importante lição sobre a energia e sua relação com o Vishuddha.
  Em um outro terreiro, cruzado com Candomblé, havia ido em uma gira de Exu, mas os Pretos Velhos vieram antes. Próximo de mim, sentou-se uma jovem ruiva que incorporou Vó Rita. Todos sentaram em bancos de madeira por alguns minutos e ela foi chamada para dentro do círculo interno. Ao sentar-se, me encarou por diversas vezes, enquanto ria. Senti que eu deveria ir até ela, que havia alguma mensagem para mim. Foi nos dada permissão de falar rapidamente com os Pretos Velhos e eu me dirigi à Vó Rita. Ela era uma entidade que me lembrava muito minha falecida avó. Me falava de forma carinhosa, enquanto, ao mesmo tempo, me dava bronca. Não lembro também de suas palavras, mas aprendi a não me torturar por isso. Talvez eu não tivesse consciência para compreender aquilo, ou devesse esquecer e deixar meu inconsciente usar aquilo por detrás das cortinas. Seja como for, assim tinha que ser. O mais importante, eu nunca esquecerei:

  — Muita coisa ainda vai acontecer, menino. Mas a partir de agora, você é meu neto e pode chamar Vó Rita quando precisar.

  E eu senti a paz me invadir. Não havia perguntado nada. Apenas me ajoelhado e ouvido. E foi uma das melhores escolhas que eu fiz. Me dispor à ouvir. Eu havia ganhado mais uma companheira de jornada.


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