Uma princesa presa numa torre, guardada por um terrível dragão. Até que um cavaleiro de armadura reluzente a liberta, derrotando o dragão. E vivem felizes para sempre.
Todos conhecem essa história, mas será que as coisas são tão simples e unilaterais? O que acontece quando não há cavaleiro para resgatar a princesa? Ela viverá eternamente em uma torre? Será incapaz de ser feliz? Viverá pelo capricho de uma fera e a ausência de um destino favorável? Os contos de fadas deveriam retratar a realidade em seu nível simbólico mais elevado. Mas talvez ele seja uma das maiores realidades ignoradas em nossa sociedade. A história de que torna impotente incontáveis mulheres desde criança: Que elas não são capazes de sair da torre ou de derrotar o dragão.
As mulheres são facilmente condicionadas por duas ideias na infância: ser externamente lindas e achar seu príncipe encantado. Mas isso não significa lutar por um ótimo futuro, mas ficar preso a uma realidade imaginária.
Sua liberdade é tragada no nascimento, quando são prometidas à um homem que, supostamente, conhecerão. A torre representa todas as prisões sociais em que foram encarceradas. E sua felicidade e completude, foi encarcerada na figura masculina. Sua maior prisão é o modelo de felicidade feminina. E entramos na torre.
Em Promethea, quando ela e Bárbara estão escalando a Árvore da Vida, passam pelo 27º Cineroth, guiadas por Austin Spare, ao verem pessoas caindo de um torre, como é retratado na maioria dos tarots. Eis o diálogo:
Bárbara: Ei, o que é aquilo ali? Quero dizer, aquelas pessoas estão caindo. Não deveríamos ajudá-las?
Austin Spare: Não há motivo nenhum, Bárbara, minha querida. Eles estão sempre caindo. Essa é a iluminação da Torre, o símbolo do caminho 27. É a torre em cada homem ou mulher que já construíram... um edifício, um casamento, uma carreira... algo que se pretendia alcançar o céu.
Essa é a Torre. Todas as nossas criações e tentativas de sermos plenamente felizes através de algo que por si só, não traz felicidade.
Casar não vai trazer felicidade, muito dinheiro não vai trazer felicidade, um emprego também não. São falsas ideias de que a felicidade está nesses produtos sociais, mas casamento significa divisão e conflito, dinheiro significa responsabilidade em administra-lo e emprego significa estress. A felicidade está no seu coração. Quando você você ama a pessoa com que se casou e sabe conviver com ela entre o fluxo de mudanças que a vida dá, quando você ama o trabalho que você faz, mesmo que ele te estresse, quando o sorriso no fim do dia vale a pena. A felicidade não está nessas coisas.
Está na compatibilidade da sua Essência com essas construções. Caso não esteja, elas vão ruir como a Torre do tarot.
No caso da mulher, sua principal torre é sua sexualidade. Ela nasceu como um objeto prometido e precisa se comportar como o prêmio que, desde cedo, lhe ensinaram que era. Precisa permanecer comportadamente em sua torre.
Na cultura brasileira, essa diferença fica muito evidente quando se observa os comentários sobre as mesmas atitudes no mundo masculino e feminino. O homem, para ser macho, precisa conquistar, ou melhor, pegar, comer, fuder, o maior número de garotas possível. Chegar aos 18 anos virgem é um sacrilégio no mundo masculino. Esperar por alguém especial, nem se fala.
A mulher não possui o mesmo direito social. Porque se assim o fizer, se torna uma vadia. Seu valor como objeto de desejo se perde.