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segunda-feira, 6 de abril de 2015

O Inconsciente a se comunicar


  Antes de nos aprofundarmos no assunto em questão, é preciso abordar alguns fatores a respeito do inconsciente que serão vitais para o desenvolvimento desse texto.

1. O inconsciente não existe no plano físico. Se existisse, seria obrigado a responder às leis de tempo e espaço que nos regem. E sabemos que o inconsciente é atemporal e não-espacial. E, acho muito improvável que alguém o delimite em espaço, pois o espaço que conhecemos é ocupado pela matéria desse plano. E como o inconsciente não é composto dessa matéria, não existe espaço no inconsciente. Pelo menos não como entendemos espaço.

2. O inconsciente é constituído do mesmo conteúdo que a consciência em natureza. Mas seu modus operandi se diferencia pela natureza do ambiente em que existem.

  Uma forma simples de explicar a natureza da mente e a fragmentação do Inconsciente e Consciência é através da imagem acima. O iceberg é a sua mente, a parte acima da água é a consciência e a parte submersa é o inconsciente. O iceberg é todo gelo, mas as ações que ele sofre abaixo da água são diferentes das ações que sofre na superfície. São mundos distintos, constituídos de matérias distintas, que, por consequência, fazem com que o iceberg exista de duas formas diferentes e esteja sujeito à influências de naturezas diferentes. Diferentes temperaturas, elementos, etc. Os dois são gelo, mas por estarem em locais diferentes em natureza, são dois pedaços de gelo "diferentes".

  O inconsciente, na visão de Jung, já se mostrou mais do que um simples depositário de conteúdo reprimidos. Em diversas ocasiões, ele se assemelha a um companheiro que nos acompanha de um outro ponto de vista, e, à sua maneira, nos comunica muita coisa que escapa da consciência. Seja através de sonhos, intuições, sincronicidade...
  Mas o problema começa com a mensagem. O inconsciente é a parte do seu Self que não se submeteu às leis desse estágio de vibração energética. Assim como temos vários graus de densidade da água, dos gases, o mesmo ocorre com a energia e isso constitui a matéria do nosso plano físico. O inconsciente se manteve em seu plano mental natural, portanto, não partilha de nossa linguagem verbal. Nossas línguas são construtos artificiais estruturados para criar um elo entre um som e um objeto, ação, lugar, etc. Isso é um grande limitador da forma. Uma banana se constitui de sua existência como é. Nossa percepção a traduz para nós, mas não a concebe em sua totalidade. Apenas facilita que não precisemos andar com uma banana o tempo todo para explicar o que é uma banana. Podemos apenas cita-la e todos que já tiveram contato saberão o que é uma banana....em sua experiência individual. Essa experiência individual também é importante, pois elas são dotadas de significado. Esse significado será explorado pelo inconsciente. É o motivo da mesma coisa aparecer em sonhos de formas diferentes, com significados diferentes. Esses significados pessoais, dentro da psicoterapia, serão desvendados conforme se conhece a história do paciente. Mas não somos apenas inatos, mas fruto da interação com o ambiente. Dessa interação cultural e social, obtemos os conteúdos coletivos. À esses conteúdos que estão presentes em todas as culturas e constituem a base psicológica do mundo, Jung chamou de Arquétipos. Toda essa linguagem é simbólica. E essa é a natureza da conexão do inconsciente com a consciência.

  Símbolo significa aquilo que nos une, e as diversas línguas que criamos na história da humanidade são simbólicas. Simbolizam atos, objetos, entre outras coisas, como disse antes. Se todas as pessoas morrerem, menos eu, minha mulher e minha filha, nada me impede de transformar a banana em maçã. Eu uni um significante à outro significado.
  Por causa dessa natureza frágil e subjetiva (por causa da experiência pessoal das pessoas com as mesmas coisas) que o inconsciente se comunica de forma simbólica pessoal, que faz sentido para aquele que recebe a mensagem, e de forma coletiva, que faz uso dos símbolos comuns às diversas culturas e que não modificam a natureza do seu significado pela experiência pessoal.
  Uma espada pode ter aparecido em várias ocasiões diferentes na vida de uma pessoa. Mas ela nunca deixará de ser um objeto cortante. Se ela está cega, é incapaz de dividir aquilo que tenta cortar, mas será sempre objeto símbolo de divisão, corte, força, destreza. Existe um limite para os significados. Uma espada nunca entrará nos significados de um escudo ou martelo, por exemplo. Existem vários tons de vermelho, mas se chegar ao laranja, deixou de ser vermelho. O inconsciente "respeita" esses limites de significados, pois mesmo que ele e a consciência sejam duas margens de um rio, existe uma ponte que os une.


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