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sexta-feira, 27 de março de 2015

O Poder do Agora II

  Neste texto falaremos do que Tolle chama de Presença. A principal característica da Presença é a consciência. Não o que entendemos como a parte da psique que se difere do inconsciente, mas o estado de alerta e controle que realmente domina os impulsos e atitudes inconscientes. A maioria dos atos nas pessoas comuns ocorre no piloto automático. O que resulta naquele flashback antes de dormir. Ele acontece porque no momento em que o evento aconteceu, você foi incapaz de estar presente. Então você o revive mentalmente, com aquilo que gostaria de ter feito. Não aquela reação impensada que gera arrependimentos e insônia. Isso é o Estado de Presença. Significa viver conscientemente a experiência presente de forma ativa e não reativa.
  A grande dificuldade está em se manter acordado e no controle. São muitos estímulos distratores em meio a responsabilidades, atividades, fazendo com que não tenhamos energia suficiente para decodificar todos e, ainda por cima, fazer uma seleção produtiva daqueles que ignoraremos e quais responderemos. A identificação com o sofrimento evita que você acorde para a nova existência que se produz a cada dia e a cada mudança. Vejamos um exemplo:

  Um homem de 30 anos sonhava em ser atleta, mas abriu mão disso para se trancar em um escritório pela segurança do salário. O que não era capaz de colocar um sorriso no seu rosto. Então ele sofre um acidente e perde uma das penas. Inicialmente, ele sofre. Até o dia em que se interessa por paraolimpíadas. Em cinco anos, ele se torna um campeão das competições. E em cinco anos sem uma perna ele sorriu mais vezes do que 10 anos no emprego em que estava.

  Vemos que no início, ele lamenta sua escolha, sofre com ela, seus ganhos não são capazes de prover felicidade em contrapartida ao seu desgosto com o trabalho, e mesmo assim ele não o abandona. Vive em um estado de negação de si e rejeição do presente que escolheu. Essa resistência é a causa do seu sofrimento. Se você se recusa a aproveitar a vida que tem, não haverá vida que lhe satisfaça. No segundo momento, o choque da mudança o força a abandonar sua vida antiga, ao mesmo tempo que amplifica suas possibilidades a um novo mundo ao qual ele não pertencia. Ele aceitou seu presente, se manteve em Estado de Presença e tomou o controle da sua vida. Infelizmente, ele precisou de um evento não planejado para que pudesse despertar e utilizar sua consciência. Ele poderia passar a vida reclamando da sua desgraça, mas escolheu a oportunidade e recriou sua realidade a partir dela.


  Não é necessário que eventos  acidentais façam isso conosco. Podemos fazer isso voluntariamente através da Vontade. Ela não é descrita, adjetivada ou traduzida em palavras. Sua Vontade se manifesta naquilo que você faz e perde a hora, sente vontade de acordar cedo pra fazer isso, faz bem sem precisar de muito esforço ou dificuldade. Você só precisa senti-la, intui-la. É muito fácil perceber o caminho contrário. Ele te dá sofrimento, desafio, dor e, no final do dia, nenhuma satisfação pelo trabalho feito. Não importa o quanto o mundo lhe trucide quando estiver na sua Verdadeira Vontade, no final do dia, você terá motivos para sorrir.

  Mesmo assim, o mundo é feito de interpretação. Mesmo que você tenha habilidades, se não der valor à elas, não utiliza-las, lapidá-las, vai tentar viver uma vida que não condiz com a sua Essência.  Essa resistência vai gerar sofrimento em cada fracasso. E isso começa quando você não aceita o presente do seu Ser e o que o constitui. A Presença necessita de aceitação. E aceitação só existe na ausência de resistência.



As estratégias da mente para evitar o Agora
  A principal armadilha da mente é o tempo. Ele faz com que você se localize no passado e no futuro constantemente. Mesmo quando decide fazer algo, você o faz para mudar um passado ou alcançar um futuro. O que, de certa forma, não tem problema. O problema está em não estar presente no que você faz. Seu corpo está realizando uma ação no presente, mas sua mente não está ali, na ação. Ela está no futuro ou no passado, revivendo coisas que já passaram ou sequer aconteceram.
  Você perde cada momento do Agora quando se localiza em outro momento que não o presente. O tempo é a maior armadilha da mente. Porque ele não existe. Mas as suas preocupações estão atreladas à ele. As contas que você vai ter que pagar, ter que ir trabalhar amanhã, a mensalidade da escola dos seus filhos. Mas nada disso está acontecendo agora. Agora você está lendo esse texto. Agora você não está no trabalhando, está lendo; não está na fila do banco para pagar contas. Agora, que você está lendo, esteja unicamente nesse texto. Sem nada mais. Sinta-se enquanto lê.
  Esteja presente dessa forma em tudo o que faz. Quando está com seus filhos, quando está trabalhando, quando está cantando, quando está conversando, quando está jantando. Isso é dirigir o foco da consciência para o presente. O presente só dura o instante em que existe. Até que o próximo presente exista. O passado não existe mais neste presente e o futuro sempre será um presente a existir. Até que exista e se torna presente. Apenas o presente existe.
  Não é errado consultar o passado, nem planejar o futuro. O problema é quando você vive mais nesses dois mundos do que no presente que está acontecendo agora.



Carl Jung relata, em um de seus livros, uma conversa mantida com um chefe indígena norte-americano para quem a maioria das pessoas brancas tinha rostos tensos, olhos espantados e um ar cruel. O chefe disse: “Estão sempre buscando alguma coisa. O que eles estão procurando? Os brancos sempre querem alguma coisa. Estão sempre agitados e descontentes. Não sabemos o que desejam. Achamos que são loucos.”

  O chefe indígena está certo. Vivemos como se nunca tivéssemos o suficiente, descontentes com a nossa realidade. Isso acontece porque nunca estamos vivendo o presente. Na realidade, não sabemos em essência o que temos e vivemos no presente, porque nunca estamos nele. Conseguimos um carro e ficamos pensando no seguro, no combustível, nas multas e acidentes que podem acontecer, mas a última coisa que pensamos é no carro que tanto queríamos e, agora, temos.


  Eu espero que tenham gostado dos textos. Para os que leram ou estão lendo o livro, espero que gostem também. Infelizmente, eu devo entrar em um hiato por causa das provas da faculdade. Então pode demorar algumas semanas até ter outra postagem aqui. Mas vocês podem aproveitar e ler os textos mais antigos. Até a próxima!

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