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sexta-feira, 14 de março de 2014

Retornando à Essência: Uma Velha Senhora

  Minha avó era uma mulher admirável, decidida, forte e, ainda por cima, independente. Nunca vi ela pedir duas vezes a mesma coisa a ninguém. Se não fizessem na primeira, ela fazia. Desde criança, vi minha avó carregar bananeiras nos ombros como se fosse natural de sua idade. Ela já passara dos 50, mas acho que esqueceram de contar pra ela. Lembro-me como a ajudava a plantar, alimentar as galinhas, cortar as bananeiras, erguer paredes de tijolos, fazer cimento e concreto. Eu adorava ajuda-la no meio das plantas que haviam no quintal, e eram muitas. Me sentia numa floresta. Me sujava todo. Eu parecia um macaco quando ela me pedia pra subir nas árvores e amarrar cordas, cortar galhos, colher frutas e coisas assim. Meus pais morriam de medo, mas eu me divertia como se pertencesse àquilo. Isso são só boas lembranças. A influência das coisas se desenrola a partir daqui.

  Em 2010, minha avó contraiu uma forte pneumonia. Ficou exatos sete dias de cama. E em um desses dias me chamou para conversar. Eu havia ficado de visitar minha namorada na Tijuca, e ela não gostou que eu tivesse ficado em casa. Me fez ir visitá-la. Eu disse que iria no dia seguinte, mas ela disse que teria que ser agora. Eu fui, relutantemente, mas fui. Nosso relacionamento teve fim naquele dia e eu voltei para casa triste. No dia seguinte, fiquei com a minha avó o máximo que pude, e no dia que se seguiu, ela faleceu. Havia mostrado uma melhora magnifica em ânimo, aparência, apesar de continuar de cama, mas faleceu. Foi um dos fatos que me faz acreditar até hoje, que ela tinha que partir naquele momento. Era necessário. E foi. E eu estava com meu emocional arrasado depois dessa “maravilhosa” semana. Então fiz a mesma coisa que faço até hoje quando me vejo perdido em sentimentos. Medito. Não saio pra não fazer coisas que no fundo não quero, como algumas pessoas fazem, como beber, brigar, etc. Eu me resguardo, medito e espero a maré do meu interior se acalmar. Todo dia eu pedia por algo que me esclarecesse as coisas e me mostrasse o que fazer em seguida. E para minha surpresa, na época, minhas preces foram atendidas em um dia qualquer que meu avô me chamou para conversar à sós. Não fazia idéia do que ele teria para me dizer. Entrei no quarto e o abracei, sentei na cama e perguntei-lhe o que havia acontecido. Suas palavras foram exatamente essas:

— Você sabe aonde fica o terreiro do Caboclo que falava com a sua avó?

  Minha mente paralisou. Minha avó, um Caboclo e a Umbanda que tanto desprezei. Lhe respondi que não. Ele disse que tudo bem e, se eu soubesse, avisasse à ele. Realmente, a forma mais fácil de quebrarmos preconceitos, é através de pessoas que confiamos plenamente. É através da nossa fé neles que, facilmente, depositamos fé nas coisas que não conhecemos e muitas vezes desprezamos. Haviam me dado a porta, era a hora de eu atravessa-la. E eu estudei as entidades, as ervas utilizadas, lembrei da minha avó batendo nas paredes da casa com um galho de arruda molhado em sal grosso e como me subia um arrepio pela espinha quando ela fazia isso.
  Meus avós faleceram em 2010 e 2012. E agradeço imensamente a contribuição essencial que eles prestaram à minha caminhada, ao meu desenvolvimento e ao amor incondicional que estava preso dentro de mim. Espero que estejam trabalhando bastante. Meu preconceito estava quebrado e uma nova porta foi adicionada ao meu Corredor de Sabedoria.



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