O Despertar é a parte mais
bonita de todo o caminho. Ele ocorre como um fluxo ilimitado de luz no meio da
escuridão, da dúvida e da insatisfação. Eu fui criado com uma mãe evangélica à
todo vapor pra me fazer um bom “crente”. Eu estudei em escola evangélica, minha
mãe me levava para a Igreja constantemente, mas nada tirou de mim, quando eu
cresci, a sensação de algo estar errado no mundo. Alguma coisa estava fora do
lugar, as peças não se encaixavam, pelo menos, não as peças que me deram. No
fundo eu sabia que existia algo que não me mostravam, algo que eu devia buscar
ou então nada faria sentido. Deus seria um ser sádico e injusto, não havia
lógica alguma na salvação, e sequer na criação de uma existência que vive numa
única forma e depois desaparece ou cessa sua influência. Morrer por um descanso
eterno me parecia desperdício de existir, já que você se torna um inútil. E se
o universo existe por inconstáveis milênios, porque haveria de ser povoado por
seres tão insignificantes e limitados?! Mas foi na escola que a base do meu
despertar se apresentou, na forma de um princípio básico da ciência. “Na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
Eu sentia um grande incômodo quando vi todos
chorando à minha volta quando minha bisavó morreu. Eu a amava, mas não
conseguia chorar. E foi o mesmo com meus avós. Eu sentia uma imensa tristeza
por não tê-los aqui. Mas tudo que eu conseguia fazer era pensar o que aconteceu
depois. Porque no fundo eu sabia que havia um “depois”. Eu não queria meus
parentes de volta, porque algo dentro de mim me dizia que isso era errado. Que
o certo seria eu ir até eles, em algum momento. Que se Deus era realmente
justo, aquilo era tão necessário quanto recompensador, já que Deus não criaria
algo que não resultasse em evolução. Aquele corpo não era mais receptáculo
deles, mas sua personalidade não se encontra no seu corpo. E sua mente não pode
ser tocada. Então porque o real ser deveria desaparecer com o fim de um corpo,
se até aquele corpo não teria fim? Mas se transformaria em algo pela própria
natureza? E chegou um momento em que a revelação aconteceu. Eu descobri que
havia outros caminhos, caminhos que não me mostraram, que não me deram o
direito de escolher. E como foi maravilhoso saber que eu não estava louco. Que
outros antes de mim pensaram o que eu estava pensando, que viram os mesmos
espaços em branco que eu vi. Eu não estava sozinho. Minha loucura era normal.
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